domingo, 20 de setembro de 2009

No caminho do Discipulado Missionário



Introdução:


Para a vida de cada cristão e para a vida da Igreja, é de grande importância a convicção de que é Deus mesmo quem toma a iniciativa para vir ao nosso encontro. Nele está a fonte do chamado para o seguimento a Jesus Cristo; para a vivência da Missão; e a vivência em Comunhão. A CMOVC, à luz do Documento de Aparecida e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), deseja aprofundar, em seu âmbito de atuação, esses eixos fundamentais. A vivência desse caminho na Igreja e na sociedade só é possível peça ação do Espírito Santo que dinamiza a vida da comunidade e consolida-a com vocações específicas, sempre a serviço da edificação do Povo de Deus. Para tanto, precisamos dar atenção à formação como necessidade e desafio.

“A condição do discípulo brota de Jesus Cristo como de sua fonte, pela fé e pelo batismo, e cresce na Igreja, comunidade onde todos os seus membros adquirem igual dignidade e participam de diversos ministérios e carismas. Desse modo, realiza-se na Igreja a forma própria e específica de viver a santidade batismal as serviço do Reino de Deus” (DA 184).

Quando cada pessoa toma consciência de que é chamada por Deus para seguir Jesus Cristo fazendo parte da vida em comunidade e de que o mesmo Deus lhe concede a graça do Espírito Santo para testemunhar essa experiência de fé na família, na comunidade e na sociedade, ela sabe que não se trata de missão por conta própria, mas na comunhão com Jesus Cristo. Esta graça precisa ser continuamente cultivada de modo pessoal e na comunhão com a comunidade.

As pessoas que têm uma vocação e missão específicas necessitam ainda mais encontrar meios para esse cultivo e aprofundamento, pois se trata de fazer, como discípulo missionário, a experiência do encontro com Jesus Cristo nessa realidade em constante transformação e tão desafiadora. “Cada uma das vocações tem um modo concreto e diferente de viver a espiritualidade, que dá profundidade e entusiasmo para o exercício concreto de suas tarefas. Dessa forma, a vida no Espírito não nos fecha em intimidade cômoda e fechada, mas sim nos torna pessoas generosas e criativas, felizes no anúncio e no serviço missionário.Torna-nos comprometidos com os reclamos da realidade e capazes de encontrar nela profundo significado em todo o que nos cabe fazer pela Igreja e pelo mundo” (DA 285).



I. Chamados ao seguimento de Jesus Cristo.

“Segue-me” (Mc 2,14)


Jesus Cristo sempre toma a iniciativa para chamar os discípulos, para escolher os doze, para formá-los e para enviá-los. Assim, vai acontecendo um profundo relacionamento entre os discípulos e o Mestre; pois ele “constituiu Doze para que ficassem com Ele e para enviá-los a pregar, e terem autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3,14-15).

Os discípulos vão descobrindo toda a beleza da vida do Mestre a partir do encontro com ele e sentem entusiasmo em segui-lo. Mesmo que tudo ainda não seja claro para eles, a experiência da vivência com Jesus Cristo vai lhes indicando que ele é o Mestre missionário, amigo dos publicanos e pecadores, que está sempre saindo ao encontro: “Jesus percorria todas as cidades e povoados ensinando em suas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino, enquanto curava toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9,35).

Mas, Jesus vai percebendo a fragilidade na vida deles e prepara-os para que possam abraçar a missão que passa pela renúncia de si mesmos, pelo sofrimento (Mc 8,34), pela entrega da vida: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). No processo de formação, Jesus está sempre dirigindo-lhes a palavra, dando-lhes particular atenção (Mc 4,10.34; 8,31; 9,30-31; 10,32-33.42; 14,17.28; 16,14), para que estejam vivenciando a comunhão com o Mestre: “Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, também vós o façais (...) Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo 13,15.17).

Ele sabe que veio para reunir e guiar aqueles que são atraídos pelo Pai e lhe são entregues: “Por eles eu rogo; não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste, porque são teus” (Jo 17,9).

Depois de ressuscitado, Jesus continua saindo ao encontro dos discípulos. Em primeiro lugar daqueles dois na estrada de Emaús e, em seguida, da comunidade toda, como encontramos no evangelho de Lucas (24,13ss). A experiência do encontro torna-se fundamental para que a motivação seja renovada. Nesse encontro, Jesus parte da situação de desencanto que está sendo vivenciada pelos discípulos. Percebendo que vêem a realidade a partir de si mesmos, Jesus pergunta e deixa que falem.

6. Depois de escutá-los, Jesus faz observações à visão que expressam e questiona-os. “E, começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito” (Lc 24,27). Mostra-lhes o significado profundo do que estava acontecendo. Esse tempo que Jesus dedica para clarear a visão deles é muito importante, mas não foi suficiente. Um outro passo aconteceu na celebração da partilha do pão. Aí, os seus olhos se abriram. E mesmo assim, houve necessidade da confirmação da experiência na comunidade dos discípulos. Foi então que “abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras” (Lc 24,45) e explicou-lhes o sentido do seu sofrimento, da entrega de sua vida. No acompanhamento que Jesus faz, há um destaque especial para a Palavra e para “a partilha do pão” que ele abençoa e distribui, como lugares de encontro com o ressuscitado.

7. Porém, não basta caminhar com Jesus, escutá-lo, ver suas obras. Muitos estavam com Ele, mas não haviam descoberto a pessoa e a missão de Jesus a partir dEle. A visão que predominava em seus corações era aquela de um Messias glorioso que libertaria o povo, traria vantagens e privilégios para seus adeptos e reinaria sem passar pelo sofrimento, ainda mais pela morte na cruz. Por isso, não o acolhem logo como ele é: aquele que sofreu, foi crucificado e os acompanhava vivo.

8. Na verdade, vemos como há todo um processo na vida dos discípulos. Antes, seus olhos estavam impedidos de reconhecê-lo. Agora, eles o reconhecem na ceia, mas Jesus se torna invisível diante deles (Lc 4,31). Então, o que é fundamental na experiência do seguimento a Jesus Cristo, o que precisa marcar o caminho espiritual do discípulo?

9. Jesus se dá a conhecer na comunidade reunida. A experiência dos dois não os isola da comunidade; ao contrário, motiva-os para que voltem à comunidade. Mas, mesmo depois de contarem e escutarem as experiências do encontro, ainda existem dúvidas em seus corações. Assim, não reconheceram Jesus quando se apresentou no meio deles e disse: “A paz esteja convosco!” (Lc 24,36). É o próprio Jesus que vai apresentar-lhes as mãos e os pés e come um pedaço de peixe para fazer-lhes ver que se trata dele mesmo. “Então, abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras, e disse-lhes: “Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu Nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém.” (Lc. 24, 45-47). Na comunidade dos discípulos, é que é confirmada a experiência do encontro feita anteriormente de modo pessoal e em pequenos grupos. Jesus, outra vez, toma a iniciativa de ir ao encontro dos seus discípulos, agora reunidos. Ele sabe da importância da comunidade dos discípulos para a missão. Por isso, lhe dá atenção, explicando o significado de tudo o que havia acontecido com ele. É necessário que a comunidade seja realmente comunidade de testemunhas do ressuscitado; pois se trata de vivenciar, celebrar e anunciar o que na verdade aconteceu e que faz parte da experiência pessoal e comunitária: “Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos” (1Jo 1,3). Sem esta experiência constante da presença do Mestre, sem estar nessa comunhão profunda com aquele que chama e envia, a comunidade não será comunidade de discípulos missionários. É Jesus mesmo quem afirma: “Vós sois as testemunhas dessas coisas” (Lc 24,48). Para levar adiante a missão, a comunidade dos discípulos vai acolher como graça a convicção de que não estará sozinha e aprofundá-la a cada momento, pois contará com a força do Espírito de Deus: “Eu enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do Alto” (Lc 24,49). Aquele mesmo que consagrou Jesus para a missão, também consagra os discípulos dele para que continuem a obra que é de Deus.

10. A comunidade, no caminho de Jesus Cristo, precisa aprender a sair ao encontro das pessoas, de grupos e outras comunidades; a sair em missão, a se reunir e celebrar, a ser testemunha e dar testemunho. Em 1975, o papa Paulo VI já considerava que é importante realçar “para a Igreja, o testemunho de uma vida autenticamente cristã, entregue nas mãos de Deus, numa comunhão que nada deverá interromper, e dedicada ao próximo com um zelo sem limites, é o primeiro meio de evangelização. “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres – dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos – ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”. (...) Será pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar o mundo; ou seja pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade”. (EN 41).

11. Na vivência do seu testemunho, a comunidade é chamada a reconhecer as chagas vivas de Cristo na vida das pessoas, das famílias, dos jovens, das comunidades, de todos os excluídos. Guiada pelo Espírito Santo, a comunidade se deixará interpelar pelos que sofrem e, será iluminada para que seus membros sejam discípulos missionários obedecendo ao Evangelho: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10, 37).

12. Mergulhando no Mistério da Páscoa de Jesus Cristo, o discípulo encontra a força de Deus que o faz entrar na realidade em que vive para descobrir que já foi redimido pela entrega da vida de Jesus. O que lhe falta é abrir, sem reservas, sua vida para acolher a graça que lhe é concedida no encontro com aquele que morreu e ressuscitou e que, continua saindo ao encontro dos filhos e filhas amados de Deus para reunir o que está disperso (Cf. Jo 11,52).

13. O Documento de Aparecida, ressaltando a importância da experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, mostra que a vivência da fé pede necessariamente a ligação-pertença a uma comunidade de fé. “Também hoje o encontro dos discípulos com Jesus na intimidade é indispensável para alimentar a vida comunitária e a atividade missionária. Os discípulos de Jesus são chamados a viver em comunhão com o Pai (1Jo 1,3) e com seu Filho morto e ressuscitado, na “comunhão no Espírito Santo” (1Cor 12,13” (...) A vocação ao discipulado missionário é con-vocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da tentação, muito presente na cultura atual, de ser cristãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela “nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão” (DI 3). Isso significa que uma dimensão constitutiva do acontecimento cristão é o fato de pertencer a uma comunidade concreta na qual podemos viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão com os sucessores dos Apóstolos e com o Papa” (DA 154.155.156). Sendo assim, a dimensão comunitária não é uma dimensão entre outras, mas precisa acompanhar e perpassar todas as dimensões da formação humana.



II. Chamados para a vivência da Missão

“Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19)



1. “O testemunho que o Senhor dá de si mesmo e que São Lucas recolheu no seu Evangelho – “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades” (Lc 4,43) – tem, sem dúvida nenhuma, uma grande importância, porque define, numa frase apenas, toda a missão de Jesus: “É para isso que fui enviado” (Lc 4,43). Estas palavras assumem o seu significado pleno se se confrontam com os versículos anteriores, nos quais Cristo tinha aplicado a si próprio as palavras do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a boa Nova aos pobres” (Lc 4,18) (EN 6).

2. Jesus é o missionário do Pai. Em sua vida e missão, encontra-se a perfeita sintonia entre a mensagem e o mensageiro, entre o dizer, o fazer e o ser. Vivenciando a anunciando a Boa Nova do Reino de Deus, ele, ao mesmo tempo, dá sinais da presença do Reino e vai convocando e formando pessoas para que possam acolher a missão, o mandato que ele deixa: “Ele os enviou para anunciar o Reino de Deus e curar os enfermos” (Lc 9,2).

3. “O Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a atuação de seu desígnio de salvação, em toda a sua plenitude” (RM 15).

4. Trata-se então do “Reino da vida, porque a proposta de Jesus Cristo a nossos povos, o conteúdo fundamental dessa missão, é a oferta de vida plena para todos” (DA 361). Mas, “as condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor, contradizem a esse projeto do Pai e desafiam os cristãos a maior compromisso a favor da cultura da vida. O Reino de vida que Cristo veio trazer é incompatível com essas situações desumanas. (...) Tanto a preocupação por desenvolver estruturas mais justas como por transmitir os valores sociais do Evangelho, situam-se neste contexto de serviço fraterno à vida digna. Descobrimos, dessa forma, uma profunda lei da realidade: a vida só se desenvolve plenamente na comunhão fraterna e justa. Porque Deus em Cristo não redime só a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os seres humanos” (DA 358 e 359). Sendo assim, a missão, como vivência do seguimento a Jesus Cristo, é caminho para a vida plena.

5. Como nos lembra o Documento de Aparecida, “ao chamar os seus para que o sigam, Jesus lhes dá uma missão muito precisa: anunciar o Evangelho do Reino a todas as nações (cf. Mt 28,19; Lc 24,46-48). Por isso, todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe de sua missão, ao mesmo tempo que o vincula a Ele como amigo e irmão. Dessa maneira, como Ele é testemunha do mistério do Pai, assim os discípulos são testemunhas da morte e ressurreição do Senhor até que ele retorne. Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da vocação mesma” (DA 144).


6. A missão vem de Jesus Cristo, no seu Espírito. Essa missão é dada à Igreja. “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28 18-20).

7. Na verdade, a missão não pode ser vivenciada por conta própria. Ela decorre do chamado que passa pela experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo ressuscitado, levando a pessoa a ser testemunha dEle na comunidade e na sociedade, sob a guia do Espírito Santo. Esta experiência é tão marcante que torna “a missão inseparável do discipulado. Este não deve ser entendido como etapa posterior à formação, ainda que esta seja realizada de diversas maneiras de acordo com a própria vocação e com o momento da maturidade humana e cristã em que se encontre a pessoa” (DA 278 e). O discípulo missionário é sempre enviado em nome de Cristo e da Igreja: “Como o Pai me enviou também eu vos envio” (Jo 20,21).

8. Na experiência dos apóstolos, a Igreja encontra caminhos importantes para a vivência da missão. No exemplo de Pedro, vê como o Espírito Santo vai quebrando sua resistência para que possa ir ao encontro da família do Centurião Cornélio. Assumindo este passo, Pedro torna-se sinal de como o Espírito de Deus não só acompanha a missão, mas a prepara e vai abrindo o caminho na vida de evangelizadores e dos que estão sendo evangelizados em vista da transformação necessária no processo de anúncio do Evangelho, do seguimento a Jesus Cristo e da formação da comunidade. Os Atos dos Apóstolos nos mostram como foi acontecendo a conversão pessoal e pastoral.

9. Entre os apóstolos, não se pode deixar de destacar o trabalho de Paulo. A experiência do encontro com Cristo no caminho de Damasco deixou-lhe uma profunda marca: Deus o chama para uma grande missão. A graça de Deus trabalha o coração de Paulo bem como o de Ananias. Neste, lhe é quebrada a resistência para que perceba que faz parte da missão que lhe foi confiada na comunidade ir ao encontro de Paulo. É o mesmo Senhor que vai dizer a Ananias: “Vai, porque que este homem é um instrumento que escolhi para levar meu nome às nações pagãs e aos reis, e também aos israelitas. Pois eu vou lhe mostrar o quanto ele deve sofrer pelo meu nome” (At 9,15-16). A vida de Paulo está marcada para sempre pela graça de Deus. A partir da vivência da missão, Paulo vai compreendendo a transformação que está acontecendo em sua vida. Ele, então, afirma: “Sou agradecido àquele que me deu forças, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim, colocando-me a seu serviço, a mim que, antes, blasfemava, perseguia e agia com violência. (...) Mas alcancei misericórdia, para que em mim, o primeiro dos pecadores, Jesus Cristo mostrasse toda a sua paciência, fazendo de mim um exemplo para todos os que crerão nele, em vista da vida eterna” (1Tm 1,12-13.16).

10. Que beleza ver Paulo trabalhando incansavelmente para a formação de cristãos leigos missionários como Áquila e Priscila e tantos outros, assim como de comunidades missionárias (Rm 16; 1Cor 16,12.15.17.19)!

11. Até há alguns anos atrás, missão era entendida como tarefa específica para algumas pessoas e grupos: religiosos(as) e padres que vinham para o Brasil ou iam daqui para outros países. A palavra missionário(a) correspondia àquelas pessoas (especialmente religiosos mais idosos) que iam a outros lugares para pregar a missão, identificada com algumas atividades religiosas durante um número determinado de dias.

12. As mudanças ocorridas na sociedade nos últimas décadas foram dando sinais à Igreja de que ela não era mais o centro da sociedade e não tinha mais influência para determinar como se devia viver na família e na sociedade. Numa sociedade marcada pelo pluralismo, relativismo, subjetivismo, pela mentalidade do descartável e do provisório, a Igreja vai assumindo a missão no sentido de ir ao encontro das pessoas para, considerando sua história e a situação em que vive, poder anunciar-lhe Jesus Cristo, oferecendo-lhe oportunidades e meios para o encontro pessoal com ele. É um passo qualitativamente diferente, pois a Igreja que forma discípulos de Jesus Cristo assume que também ela precisa ser discípula.

13. Mas, este caminho ainda não está pronto. Na realidade de hoje, se faz cada vez mais urgente o ir ao encontro das pessoas para dar-lhes atenção entrando em sua casa, sendo próximo delas, acompanhando seus momentos de sofrimento, de alegria e de procura, propondo-lhes o Evangelho de Jesus Cristo, formando pequenos grupos para celebrar a graça do encontro. Precisamos não só compreender essa característica nova da realidade, mas também colocá-la em prática a partir da experiência do encontro com Jesus Cristo pela meditação de sua palavra, pela celebração do seu Mistério Pascal, pela participação na comunidade, pela descoberta de sua presença entre os pobres, pela oração pessoal e comunitária, pelos serviços de solidariedade, pelos gestos de partilha... Afinal de contas, a missão é determinante para a vida do discípulo missionário, da comunidade, da Igreja, visto que é a partir da missão que se compreende melhor o processo do chamado de Deus.

14. A transformação que vem acontecendo contribui para que se compreenda que a missão não pode estar mais restrita a um grupo de pessoas especializadas, mas diz respeito a toda pessoa batizada e que todo discípulo(a) de Jesus Cristo é chamado a ser missionário, não a partir de si, mas daquele que concede a graça para viver em sua comunhão: “Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Assim, saindo de si, o discípulo missionário vai se convencendo de que é chamado a vivenciar a comunhão com Jesus Cristo e com seu Corpo que é a Igreja. Essa comunhão lhe reveste da força necessária para estabelecer o forte combate contra a centralidade do seu eu, pois se trata de ser discípulo missionário de Jesus Cristo.

15. Também vai-se descobrindo que a missão é para todos os dias da vida e para ser assumida por todos os cristãos em todos os ambientes. É a partir da vida e missão de Jesus que se aprende a ser missionário, a viver a missão; ele é o missionário do Pai, aquele que veio ao mundo para cumprir a vontade daquele que o enviou.

16. É na comunhão com a Igreja que se acolhe a missão. Para todos, mas de modo ainda mais forte para o presbítero diocesano, a presença do Bispo tem um profundo significado, pois é através dele que recebe a missão! Então, este aspecto marca muito sua espiritualidade que, enraizada no Evangelho, o orienta para descobrir a necessidade de conhecer bem o povo que aí vive, pedir a graça a fim de que possa amar sempre esse povo e de colocar-se como servo disponível para o trabalho de evangelização. Esse dinamismo despertará o discípulo missionário para a contemplação da presença de Deus nos acontecimentos da vida das pessoas, das comunidades e da sociedade. À luz da Palavra de Deus, esse exercício continuado permitirá estar ainda mais integrado na missão evangelizadora da Igreja Particular. A vida do discípulo missionário não pode estar limitada a algumas tarefas. Deixando-se guiar pelo Espírito de Deus, vai recebendo e cultivando a graça para se tornar cada vez mais semelhante ao Mestre: semelhante em seu amor que conduz ao despojamento, à missionariedade, à entrega da vida, à obediência à vontade de Deus.



III. Chamados para a vivência em Comunhão

“Vinde e Vede” (Jo 1,39)



1. No trabalho de formação dos seus discípulos, Jesus lhes mostra como é fundamental a vivência em comunhão com Ele e também entre eles. Aquele que diz: “sem mim, nada podeis fazer” (Jo15,5) é o mesmo que adverte: “Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,43-45). Ele constitui doze e os envia em missão.

2. Após a sua ressurreição, Jesus continua saindo ao encontro dos discípulos para consagrá-los na comunidade e como comunidade.

3. A comunidade formada por Jesus Cristo passa a ter uma ligação tão forte com ele que, como afirma S. Paulo, vai fazer parte do seu Corpo. São muitos os membros, mas um só corpo, um só Espírito que age nos membros para que seja edificado o Corpo de Cristo. A imagem do corpo, mostrando a pluralidade, pede necessariamente a complementaridade de seus membros. É o Espírito de Deus que vai suscitando essa variedade de dons, carismas e ministérios a fim de seja vivenciada como fraternidade e não na competitividade. O outro não é um rival. A graça de Deus vai agindo na vida de cada pessoa para que possa acolher o outro como discípulo de Jesus Cristo e membro da comunidade dos seguidores e testemunhas do Ressuscitado. Cultivando a graça da complementaridade, descobre-se a novidade que o Espírito de Deus vai suscitando!

4. Uma das marcas do mundo atual é a subjetividade que se expressa através do destaque à pessoa em sua dignidade, em suas potencialidades e valores, bem como o subjetivismo que coloca, de tal modo a mesma pessoa no centro, que tudo o mais fica relativizado. Então, o trabalho de evangelização precisa levar em conta essa realidade para que possa ajudar as pessoas a realizarem o encontro pessoal com Jesus Cristo e a assumirem a necessária dimensão eclesial que nasce desse encontro. Assim, o(a) discípulo(a) descobre o sentido da pertença à comunidade e vai aprendendo a alimentar aí a fé que passa a iluminar e guiar sua vida na família, na comunidade e na sociedade.

5. “A vida em comunidade é essencial à vocação cristã. O discipulado e a missão sempre supõem a pertença a uma comunidade. Deus não quis salvar-nos isoladamente, mas formando um Povo. Este é um aspecto que distingue a experiência da vocação cristã de um simples sentimento religioso individual. Por isso a experiência da fé é sempre vivida em uma Igreja Particular” (DA 164). Então, é como membro dessa Igreja Particular, participando da vida em comunidade, organizada também como rede de comunidades, que o cristão é chamado a viver como discípulo(a) missionário(a). Essa participação fortalece a experiência de que “a comunhão e a missão estão profundamente unidas entre si... A comunhão é missionária e a missão e para a comunhão” (ChL 32).

6. Como é grande a responsabilidade de todos os evangelizadores(as) hoje, pois, no processo da educação na fé, se torna necessário colaborar para o nascimento e o fortalecimento e dinamização das comunidades. Se estas não existem, de que adianta proclamar que “a vida em comunidade é essencial à vocação cristã”? Este é um dos grandes desafios para o trabalho de evangelização, especialmente na realidade das grandes cidades!

7. Se há uma relação muito estreita entre vocação cristã e vida em comunidade, não será menos forte e exigente para o ministério ordenado a vivência da dimensão comunitária. Eis o que dizem as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: “O ministério ordenado necessita recuperar sua vivência colegial. O concílio Vaticano II redescobriu a natureza comunitária do ministério ordenado. Essa “comunhão ministerial” deve ser vivenciada, afetiva e efetivamente, em todos os graus do ministério: na colegialidade episcopal e na corresponsabilidade presbiteral no interior de cada Igreja Particular. A forma individualista do exercício do ministério ordenado, além de ser uma traição à sua própria essência, é um dos principais entraves à realização de uma Igreja toda ela responsável pela missão.

8. O presbítero é, antes de tudo, membro de um presbitério e somente em comunhão com ele pode exercer sua tarefa específica. Ao presbitério como um todo, presidido pelo Bispo, e não aos presbíteros separadamente, é confiado o pastoreio da Igreja Particular. Isso não isenta ninguém de sua responsabilidade pessoal. A ação pastoral do presbitério deve ser vivida como expressão de solidariedade fraterna, na qual todos se sentem corresponsáveis pela tarefa comum e, ainda, mais pela vida e ministério de cada um dos irmãos presbíteros. “O ministério ordenado tem uma radical ‘forma comunitária’ e pode ser assumindo apenas como ‘obra coletiva’” (PDV 17) (DGAE 1999-2002, nºs 327 e 328).

9. Aí, já encontramos vários indicativos para a formação dos cristãos leigos e leigas e dos futuros ministros ordenados.



IV Formação: uma necessidade e um desafio

“Jesus então os chamou e disse: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim” (Mc 10,42-43).



1. Diante da atual sociedade pluralista e secularizada, faz-se necessário reforçar uma “clara e decidida opção pela formação dos discípulos missionários – os membros de nossas comunidades” (DA 276). O processo formativo da iniciação à vida cristã não é exclusivo dos não batizados, mas se estende também aos batizados não suficientemente evangelizados, que constituem a maioria dos católicos em nosso país. Urge, portanto, uma “identidade católica mais pessoal e fundamentada” (DGAE 88).

2. “O discípulo nasce pelo fascínio do encontro com Cristo e se desenvolve pela força da atração que permanece na experiência de comunhão dos discípulos de Jesus. “A Igreja cresce não por proselitismo mas ‘por atração: como Cristo atrai tudo a si com a força de seu amor’. A Igreja atrai quando vive em comunhão, pois os discípulos de Jesus serão reconhecidos se amarem uns aos outros como Ele nos amou (Cf. Rm 12,4-13; Jo 13,34) (DGAE 89).

3. Paulo, o discípulo missionário, compreendeu muito bem a importância e o caminho da formação. Para ele não se trata apenas de ensinar algumas instruções, mas de ajudar as pessoas a fazerem a alegre experiência do encontro com Jesus Cristo para segui-lo em todas as etapas da vida. Por isso, que, trabalhando com afinco para a formação de discípulos de Jesus Cristo na comunidade dos Gálatas, ele afirma: “Meus filhos, por vós sinto, de novo, as dores do parto, até Cristo ser formado em vós” (Gl 4,19). Aí está o ponto fundamental: formar as pessoas para que cheguem a ter a forma de Cristo, o seu modo. Dirigindo-se à comunidade dos Filipenses, o apóstolo ressalta que assumir o seguimento a Jesus Cristo é entrar no mistério de sua encarnação e de sua páscoa, pois despojou-se, assumindo a forma de escravo, assemelhou-se ao ser humano e humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! (cf. Fl 2,5-8).

4. Esse caminho de formação tem por base o conhecimento de Jesus Cristo. “Conhecer Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher” (DA 18). Só o Espírito Santo nos faz entrar no conhecimento de Jesus Cristo, pois se trata de mergulhar em sua vida fazendo a experiência do encontro com ele para nela se alimentar e dela viver. Ele é o protagonista da formação e missão e, conduzindo a pessoa ao encontro com Jesus Cristo, vai trabalhando o seu coração para que possa acolher essa grande graça: seguir o Filho de Deus que, em assumindo a natureza humana, se fez missionário servo e proclama: “Se alguém quer me servir, siga-me, e onde eu estiver, estará também aquele que me serve” (Jo 12,26).

5. Mas, onde está Jesus Cristo, onde encontrá-lo? Ele “está presente na sua palavra, pois é ele quem fala quando na Igreja se lêem as Sagradas Escrituras” (SC 7). Encontramos Jesus Cristo, de modo admirável, na Sagrada Liturgia. Com o Sacramento da Eucaristia, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. O sacramento da reconciliação é o lugar onde o pecador experimenta de maneira singular o encontro com Jesus Cristo, que se compadece de nós e nos dá o dom de seu perdão misericordioso, nos faz sentir que o amor é mais forte que o pecado cometido, nos liberta de tudo o que nos impede de permanecer em sue amor, e nos devolve a alegria e o entusiasmo de anuncia-lo aos demais e decoração aberto e generoso. A oração pessoal e comunitária é o lugar onde o discípulo, alimenta pela Palavra e pela Eucaristia, cultiva uma relação de profunda amizade com Jesus Cristo e procura assumir a vontade do Pai. Jesus está presente em meio a uma comunidade viva na fé e no amor fraterno. Aí Ele cumpre sua promessa: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 20,18). Ele está em todos os discípulos que procuram fazer sua a existência de Jesus, e viver sua própria vida escondida na vida de Cristo (cf. Cl 3,3). Cristo mesmo está nos pastores, que o representam (cf. Mt 10,40; Lc 10,16). Está naqueles que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum, algumas vezes chegando a entregar a própria vida em todos os acontecimentos da vida de nossos povos, que nos convidam a procurar um mundo mais justo e mais fraterno, em toda realidade humana, cujos limites às vezes causam dor e nos agoniam” (DA 250; 254; 255; 256).

6. “Também o encontramos de modo especial nos pobres, aflitos e enfermos (cf. Mt 25,37-40) que exigem nosso compromisso e nos dão testemunho de fé, paciência nos sofrimento e constante luta para continuar vivendo. Quantas vezes os pobres e os que sofrem nos evangelizam realmente! No reco0nhecimento dessa presença e proximidade e na defesa dos direitos dos excluídos encontra-se a fidelidade da Igreja a Jesus Cristo, O encontro com Jesus Cristos através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo (DA 257).

7. A piedade popular com as festas dos padroeiros, as novenas, as via-sacras, as procissões, as danças e os cânticos do folclore religioso, o carinho aos santos e aos anjos, as promessas, as orações em família, as peregrinações são também lugar do encontro com Jesus Cristo (DA 259). Na vida dos santos, entre estes os apóstolos de Jesus Cristo, encontramos sinais de quem seguiu Jesus Cristo e de sua morte e ressurreição se tornou testemunha. Mas, não podemos deixar de contemplar a vida de Maria, Mãe de Cristo e nossa Mãe querida! Ela se deixou formar pela graça do Espírito Santo e, desse modo, pôde responder: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). “Hoje quando em nosso continente latino-americano e caribenho se quer enfatizar o discipulado e a missão, é ela quem brilha diante de nossos olhos como imagem acabada e fidelíssima do seguimento a Cristo” (DA 270).

8. No processo de formação de discípulos missionários, o Documento de Aparecida ressalta como “o seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como o mestre que o conduz e o acompanha” (277).

9. Ainda, destaca cinco aspectos fundamentais que aparecem de maneira diversa em cada etapa do caminho, mas que se complementam intimamente e se alimentam entre si: o encontro com Jesus Cristo; a conversão; o discipulado; a comunhão e a missão (cf. DA 278).

10. A formação do discípulo missionário, pela força do Espírito Santo e da Palavra, “contagia as pessoas e as leva a escutar Jesus Cristo, a crer nEle como seu Salvador e reconhece-lo como quem dá pleno significado a suas vidas e a seguir seus passos”. É e precisa ser formação permanente e dinâmica abrangendo as várias dimensões da vida humana: dimensão humana e comunitária; a espiritual, intelectual e pastoral-missionária (cf. DA 279; 280).

11. Essa formação não pode, em hipótese nenhuma, ignorar a história de cada pessoa, com suas dificuldades, sofrimentos e esperanças muitas vezes escondidas em seu coração. Necessariamente, passa pelo acompanhamento pessoal, seja quando se trata da formação dos cristãos leigos e leigas ou quando diz respeito à formação dos futuros ministros ordenados ou para a vida consagrada.

12. É um processo exigente, pois “quando o impulso do Espírito impregna e motiva todas as áreas da existência, então penetra também e configura a vocação específica de cada pessoa. Cada um das vocações tem um modo concreto e diferente de viver a espiritualidade, que dá profundidade e entusiasmo para o exercício concreto de suas tarefas (cf. 285). “É necessário formar os discípulos numa espiritualidade da ação missionária, que se baseia na docilidade ao impulso do Espírito, à sua potência de vida que mobiliza e transfigura todas as dimensões da existência” (DA 284). É o Espírito Santo quem impulsiona o discípulo missionário para que possa colocar-se sempre a serviço, aprender a dialogar, a dar testemunho de comunhão e anunciar a pessoa e missão de Jesus Cristo.

13. O processo formativo vai acontecendo dentro da realidade do mundo, que é conflitiva e violenta. É em meio a essa realidade vai acontecendo a preparação das lideranças para que possam dar testemunho da fé em Jesus Cristo. É a partir da experiência de celebração, de vivência da fé, de questionamentos, de sofrimentos e esperanças que vai-se dando passos para que seja uma sólida formação em vista do testemunho na realidade da família, do trabalho, da comunidade, da sociedade.

14. A formação dos futuros presbíteros tem uma relação direta com o trabalho de evangelização, ainda mais quando se trata de preparar presbíteros diocesanos. Necessitamos trabalhar para que sejam discípulos missionários de Jesus Cristo que assumiu a natureza humana, “amando os seus até o extremo” e vivenciem o ministério no Espírito de Comunhão Eclesial. É a vida de Jesus Cristo que marca a vida do ministro ordenado a partir de dentro para o serviço ao povo que Deus adquiriu para si pelo sangue de seu Filho (Cf. At 20,28). É necessário que seja aprofundado o sentido da missão que ele recebe, pois esta determina e configura sua identidade. Por isso, a formação não pode se limitar em preparar bons ministros ordenados em vista de cumprirem algumas funções. É toda a vida do ministro ordenado que precisa ser iluminada pela missão que, através do bispo diocesano, ele recebe do próprio Cristo.

15. “Cristo, para continuar no mundo a fazer incessantemente a vontade do Pai mediante a Igreja, atual realmente pelos seus ministros, e assim fica sempre o princípio e a fonte de unidade de sua vida. Portanto, os presbíteros alcançarão a unidade de sua vida, unindo-se a Cristo no conhecimento da vontade do Pai e no dom de si mesmos pelo rebanho que lhes foi confiado. Assim, fazendo as vezes do Bom Pastor, encontrarão no próprio exercício da caridade pastoral o vínculo da perfeição sacerdotal, que conduz à unidade de vida e ação” (PO 14). Nesse momento em que a Igreja enfatiza o discipulado e a missionariedade, é necessário que, na formação, as dimensões pastoral e espiritual possam ganhar maior atenção a fim de que a vida dos futuros presbíteros esteja enraizada de tal modo na vida e missão de Jesus Cristo servo missionário que possam experimentar como o seu amor é sempre a motivação fundamental que sustenta a vida e a missão. Sendo contemplativos na ação, vão aprendendo que a via da missão hoje passa, necessariamente, pelo ir ao encontro das pessoas. Fazendo eles mesmos esse exercício pastoral e motivando grupos, pastorais, movimentos e comunidades para que assumam o dinamismo missionário, o futuro presbítero aprende a ler os sinais da presença do Espírito de Deus, a aprofunda-los à luz da Palavra de Deus, integrar toda essa riqueza na vida de oração pessoal e comunitária e a se perguntar: como ser discípulo missionário hoje?

16. “A conversão pastoral pedida pela Conferência de Aparecida impele-nos a considerar de tal modo a formação dos futuros presbíteros, que possam, com convicção, acolher, no coração, na reflexão e na vida, o profundo sentido de uma Igreja, toda ela, ministerial e missionária. Como convicção, isto não se torna possível sem uma experiência missionária concreta. No processo formativo é indispensável assumir uma pedagogia que valorize e ponha em destaque este novo modo de coordenar e de viver, a fim de que haja efetiva participação dos cristãos leigos e leigas na vida da comunidade e em sua missão evangelizadora” (DGAE 175).




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